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21/12/2016 TEMPO DE LEITURA: 5'

Mudanças na Comunicação Política

Lições trazidas pelas eleições de 2016 na Europa e nos EUA: precisamos estar atentos às transformações no mundo globalizado, manifestas nas eleições que ocorreram recentemente, com a vitória do Brexit no Reino Unido, e o surpreendente êxito de Donald Trump nos Estados Unidos, a derrota de Matteo Renzi na Italia e pelas eleições na Áustria.

Mudanças de caráter mundial trazem, pela primeira vez, uma reação internacional à forma como a globalização tem sido implantada. Cada vez mais, há consenso sobre um fenômeno comum, em todos os acontecimentos políticos recentes: os perdedores da globalização resolveram manifestar seu descontentamento e rejeição à forma como este processo tem acontecido.

Pesquisas de opinião nos informam que a maioria dos eleitores sentem-se profundamente ressentidos com a vida que estão levando, sentem-se também abandonados pelos partidos e pelos governos. Isso não deveria nos surpreender. Ao contrário, deveríamos nos perguntar porque este fenômeno demorou tanto tempo para acontecer. Basta notar que as tecnologias da informação, disseminadas, no mundo todo pela globalização, ao trazer novas formas de trabalhar, muito mais economizadoras de recursos e de tempo, sacrificaram milhões e milhões de empregos, eliminaram muitas profissões, reduzindo por isso a renda de grupos grandes de trabalhadores.

Essas tecnologias, ao mesmo tempo que reduziam o preço dos bens produzidos, aumentando a produção mundial de mercadorias e serviços, trazendo benefícios para quase todos e tirando centenas de milhões de pessoas da pobreza, criou uma economia de alta produtividade mas, em contrapartida, de baixa empregabilidade.

Assim, não é gratuito que a insatisfação esteja se manifestando exatamente nas regiões desindustrializadas da Europa e dos EUA, que, em um passado recente, votavam tradicionalmente e majoritariamente no Partido Trabalhista, no Reino Unido, e no Partido Democrata, nos EUA.

A migração das classes médias trabalhadoras para candidatos e temas conservadores e populistas pode também ser explicado pela sua orfandade política, já que o Partido Trabalhista e o Partido Democrata, na Inglaterra e nos Estados Unidos, foram se tornando, aos poucos, partidos das políticas de identidade, defendendo os interesses dos negros, mulheres, migrantes, ambientalistas, da comunidade LGBT, das minorias enfim, esquecendo-se de defender também os interesses econômicos, o emprego e a renda da grande massa de trabalhadores, que, naquele momento, sofria os impactos da globalização econômica.

Tudo indica também que a forma como o Governo Democrata de Barack Obama enfrentou a crise de 2008 foi uma das causas da derrocada do partido, em 2016, já que ela passou muito mais pelo apoio ao sistema financeiro, em perigo, do que pela implantação de políticas de proteção de parte da classe trabalhadora branca empobrecida, que, durante a crise, precisava do apoio do estado, pois estava perdendo seus empregos, aposentadorias e residências.

Mas essa maior confiança nos paradigmas da economia do que nas dimensões integrativas da política não é o único responsável pelo mal-estar dos eleitores. Outro fator foi o avanço desses processos de emancipação das minorias que entrou em choque com a sociedade tradicional, ainda existente nas pequenas cidades e nas comunidades rurais.

Nestes termos, como solicita Francis Fukuyama, ‘A elite liberal que criou o sistema global precisa ouvir agora as vozes raivosas que gritam diante dos portões. É preciso pensar em duas questões, que foram esquecidas, igualdade social e identidade, como questões de primeira ordem, que precisam ser equacionadas e resolvidas.’